Alcione Costa da Silva
Humberto Oliveira Ribeiro
Atualmente, com o constante impacto do processo de globalização, que se faz cada vez mais presente no mundo, vivemos conectados em uma “sociedade em rede”, a qual tem transformado a vida das pessoas, interligada por computadores que acabam por criar novas formas de comunicação e transmissão de informações, de maneira cada vez mais crescente e acelerada.
Esta rede afeta diretamente todos os segmentos da sociedade, inclusive a educação, que tem sido fortemente impactada pelo avanço das tecnologias de informação e comunicação como afirma Magnavita (apud Lévy, 1993), pode-se “[...] dizer que a sociedade atual caracteriza-se, sobretudo, pela mutabilidade e pelo movimento acelerado de produção e divulgação de conhecimentos [...]”.
O desenvolvimento acelerado dessas tecnologias se dá pela proximidade, gerada pela globalização, dos diversos setores industriais que se aperfeiçoam e potencializam as possibilidades de comunicação entre os indivíduos.
A potencialização da circulação de informações através da parafernália tecnológica à nossa disposição, a exemplo do telefone, dos satélites e dos equipamentos de informática, acaba por atingir também a educação, que tem de se moldar a essa nova realidade.
Assim, a discussão sobre EAD ganha um destaque maior, justamente pela possibilidade de contribuir com o debate sobre redução tanto das desigualdades educacionais, como das distâncias entre as diversas esferas e sistemas de educação. (MAGNAVITA, 2010)
Somos, dessa forma, impelidos a refletir sobre processos educativos que não se restrinjam aos esquemas tradicionais de ensino, mas em modalidades que ofereçam novas possibilidades, rompendo com as barreiras do espaço-tempo, impostas por currículos ultrapassados, e apresentando novos ambientes de aprendizagem.
Para se adequar a esses novos processos, a educação, mais especificamente a EAD, tem se aproveitado de diversos recursos midiáticos, principalmente os ambientes virtuais de aprendizagem, que, de acordo com Machado e Teruya (apud PEREIRA; SCHIMIT; DIAS, 2007, p. 4) são mídias[1] que utilizam o ciberespaço para transmitir conteúdos e possibilitar a interação entre os envolvidos no processo educativo.
[...] Porém a qualidade do processo educativo depende do envolvimento do aprendiz, da proposta pedagógica, dos materiais veiculados, da estrutura e qualidade dos professores, tutores, monitores e equipe técnica, assim como das ferramentas e recursos tecnológicos utilizados no ambiente. (MACHADO E TERUYA, apud PEREIRA; SCHIMIT; DIAS, 2007, p. 4)
Podemos chamar de mediação esse conjunto de atores, processos, instrumentos e signos, uma vez que são eles que medeiam nossas ações no dia-a-dia, e são alterados de acordo com o contexto em que estejamos inseridos. De acordo com Valente (2009, apud REGO, 1995, p. 102):
Vigotsky estendeu a noção de mediação homem-mundo pelo trabalho e uso de instrumentos ao uso de signos. Afirma que a relação do indivíduo é mediada, pois este, enquanto sujeito de conhecimento, não tem acesso imediato aos objetos e sim a sistemas simbólicos que representam a realidade.
No ambiente escolar essa mediação assume um caráter sistematizado, passando a denominar-se mediação pedagógica, pois:
[...] acontece, portanto, simbolizada pela ocorrência de processos de ensino-aprendizagem intencionais, pré-estruturados e desenvolvidos em consonância com os saberes escolares e mediadores tecnológicos disponíveis [...]. (VALENTE, 2010, p. 21)
Mediadores tecnológicos são os materiais didáticos hipermidiáticos e os Ambientes Virtuais de Aprendizagem com todos os seus recursos, a exemplo de wikis, fóruns de discussão e chats, dentre outros.
O wiki é uma ferramenta assíncrona[2] utilizada na internet, tendo sido criada há 15 anos, por Cunnigham, e sua utilização tem crescido a cada dia nas mais variadas áreas. Ela permite o trabalho em grupo, onde vários autores constroem textos, acrescentando ou alterando o seu conteúdo, podendo assim serem também editores e leitores. Permite ainda a construção de projetos, livros e todo tipo de texto colaborativo, todos podem contribuir com postagens nos ambientes, lendo o que já foi escrito por outras pessoas e ainda intervindo nos textos já disponíveis, sendo assim um grande suporte nas atividades de ensino e aprendizagem.
Corroborando com tudo isso, Claudia Aragão diz que:
Um wiki (wiki wiki que significa “rápido” em havaiano) é uma página web colaborativa. É elaborada através do trabalho coletivo de diversos autores. [...] qualquer um pode editar seus conteúdos mesmo que estes tenham sido criados por outra pessoa. [...] O primeiro wiki foi criado por Ward Cunnigham em 1995. [...] A funcionalidade desta ferramenta colaborativa é de grande interesse para a educação. [...] É um ponto importante e interessante para o trabalho colaborativo quando se quer elaborar um trabalho que tenha muitos pontos ou entradas (glossários, dicionários, enciclopédias, escrita de anotações, ramos de uma determinada ciência, trabalhos de investigação desenvolvidos em países diferentes, etc.), que podem ser redigidos por diferentes pessoas. (ARAGÃO, 2009, p. 24)
Podemos também dizer que,
[...] o sistema Wiki veio permitir não apenas a reunião de dados, mas a própria geração de novos conhecimentos de forma compartilhada entre diferentes sujeitos, a qualquer tempo e de qualquer lugar. Ou seja, não se trata apenas de uma ferramenta de indexação e formatação, mas a criação de um espaço de debate e sintetização de textos. Ou seja, o papel do interagente não é apenas de um bibliotecário, mas verdadeiramente de um autor, no sentido mais estrito da palavra. (PRIMO E RECUERO, 2003, p. 7)
Assim como o wiki, o fórum de discussão também é uma ferramenta assíncrona que têm auxiliado a EAD no processo de construção do conhecimento. Para ser utilizada é necessário o uso da internet, e sua função é “promover debates através de mensagens publicadas abordando uma mesma questão.” [3]
Muitos fóruns de discussão possuem regras definidas para a sua utilização, como: o registro do usuário[4], ainda que seja apenas o e-mail, limite mínimo de idade, não usar palavras de baixo calão, racismo, etc. Alguns destes fóruns têm censor de palavras para censurar àquelas indesejadas. Os usuários que não cumprem as regras são punidos com advertência, suspensão ou até mesmo são banidos do fórum. Todos os fóruns têm características que podem ser ou não habilitadas pelo administrador[5] do mesmo.
O chat é uma ferramenta síncrona[6], também conhecida como bate-papo, que permite o envio e recebimento instantâneo de mensagem e comentários, possibilitando o esclarecimento de dúvidas, discussões e a criação de vínculos em cursos a distância.
Outro fator interessante do chat é que ele permite a definição de temas para discussão, o armazenamento dessas discussões para consulta posterior e uma dinâmica colaborativa de seus participantes.
Existem inúmeros outros mediadores tecnológicos que podem ser utilizados na EAD, mas foram citados aqui apenas alguns dos mais utilizados nos ambientes virtuais de aprendizagem.
Entretanto, existem ressalvas quanto a utilização desse mediadores tecnológicos, pois, como afirmam Machado e Teruya (2009), muitas vezes,
Ao se utilizarem AVAs em cursos da modalidade a distância, espera-se que a simples disponibilização de materiais didáticos, textos e mídias audiovisuais, garantam que todos os alunos, muitas vezes de forma solitária, se apropriem do conhecimento sem que haja, contudo, uma mediação pedagógica efetiva. Os momentos síncronos nesses cursos acontecem com menor freqüência e as ferramentas de interação nem sempre alcançam seus objetivos.
Portanto, é muito importante que todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem estejam comprometidos com o mesmo, pois, como afirma Okada (2003):
[...] todos os sujeitos são mediadores uns dos outros e mediados pelo próprio mundo. Todos são seres históricos que contribuem para o desenvolvimento de si e do outro. Todos são construtores do conhecimento individual e coletivo na sua inteireza, na dimensão biológica, física, psíquica, cultural, social e planetária.
Assim, “Ao se pensar a utilização das tecnologias de informação e comunicação do ponto de vista da mediação pedagógica é salutar identificá-las/entendê-las a partir de uma abordagem colaborativa [...]” (VALENTE, 2010, p. 24), pois, para que as diferentes estratégias de mediação do processo de ensino-aprendizagem se estabeleçam é de fundamental importância que quem as define esteja ciente do seu papel de mediador pedagógico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAGÃO, Cláudia. Comunidades Virtuais de Aprendizagem. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 2009.
MACHADO, Suelen Fernanda; TERUYA, Teresa Kazuko. Mediação pedagógica em ambientes virtuais de aprendizagem: a perspectiva dos alunos. Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br/ead/arquivos/File/Textos/mediacao.pdf. Acessado em: 16/05/2010.
MAGNAVITA, Cláudia. Educação a Distância: Desafio Pedagógicos. Disponível em: http://www.unebead.adm.br/moodlecv/mod/resource/view.php?inpopup=true&id=6968. Acessado em: 16/05/2010.
NASCIMENTO, Iderlan Soares do. O professor como mediador do saber científico e educativo. Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/o-professor-como-mediador-do-saber-cientifico-e-educativo/26554/. Acessado em: 04/06/2010.
OKADA, Alexandra Lilavati Pereira. A mediação pedagógica e a construção de ecologias cognitivas: um novo caminho para a educação a distância. Disponível em: http://www.unebead.adm.br/moodlecv/mod/resource/view.php?id=6969. Acessado em: 16/05/2010.
OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales. Do mito da tecnologia ao paradigma tecnológico; a mediação tecnológica nas práticas didático-pedagógicas. Disponível em: http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE18/RBDE18_10_MARIA_RITA_NETO_SALES_OLIVEIRA.pdf. Acessado em: 16/05/2010.
PESCE, Lucila. Metodologia de mediação a distância: considerações preliminares. Disponível em: http://www.apropucsp.org.br/revista/r24_r06.htm
Acessado em: 04/06/2010
PRIMO, Alex; RECUERO, Raquel. Hipertexto Cooperativo: Uma Análise da Escrita Coletiva a partir dos Blogs e da Wikipédia. Disponível em: http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/hipertexto_cooperativo.pdf. Acessado em: 09/05/2010.
VALENTE, Vânia Rita. Mediação Pedagógica. Salvador: UNEB/GEAD, 2010.
VIEIRA FILHO, Raphael Rodrigues. Orientações para apresentação de trabalhos acadêmicos: monografia de conclusão de curso. Salvador: Portfolium, 2008.
[1] Mídia: pronúncia do inglês para o vocábulo latino media, que em português significa meios, com acepção de meios de comunicação.
[2] Assíncrona: que não ocorre ou não se efetiva ao mesmo tempo.
[3] Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B3rum_de_discuss%C3%A3o
[4] Usuário: possui liberdade para publicar mensagens em tópicos abertos ao debate e respondê-los independentemente de quem os publicou. http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B3rum_de_discuss%C3%A3o
[5] Administrador: é o que agrega as funções de administração e configuração do fórum, criação de adequação de novas salas, é quem tem permissão para enviar e-mails em massa, é quem pode bloquear, suspender ou expulsar outros membros, entre inúmeras outras funções administrativas –
http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B3rum_de_discuss%C3%A3o
[6] Síncrona: diz-se dos movimentos que se executam ao mesmo tempo.